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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

M etade

Tudo o que fazemos, o que somos, o que queremos, é fruto de escolhas. E as escolhas, nunca representam um todo mas  partes dele. Quando escolhemos sempre preterimos uma parte. Claro ou escuro, forte ou fraco, quente ou frio, dia ou noite... nunca claro e escuro, forte e fraco, die e noite, pois eles não se cabem. São metades distintas, são escolhas, são condições...

Condições cantadas com alma de poeta. Ninguém menos do que Oswaldo Montenegro pra definir essas condições; essas metades:

Metade (Oswaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio;

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito,

Mas a outra metade é silêncio...



Que a música que eu ouço ao longe

Seja linda, ainda que tristeza;

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante;

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade...



Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece

E nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas como a única coisa que resta

A um homem inundado de sentimentos;

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo...



Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço;

E que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada;

Porque metade de mim é o que penso

Mas a outra metade é um vulcão...



Que o medo da solidão se afaste

E que o convívio comigo mesmo

Se torne ao menos suportável;

Que o espelho reflita em meu rosto

Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,

A outra metade eu não sei...



Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais;

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço...



Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção...



E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade... também.





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