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sábado, 24 de setembro de 2011

O PRESENTE


 
Tenho uma grande amiga de muitos e muitos anos, a qual considero como irmã e que tem por hábito criar grandes expectativas em torno de acontecimentos habituais. Não consigo definir se esse hábito é bom ou ruim. Bom porque mostra que ela acredita na vida e nas pessoas, na sua essência, na sua integridade, no seu coração, nos seus sentimentos e nos seus laços afetivos; ruim porque, quando seu ideal não se concretiza, desaba sobre todo seu ser uma catástrofe de dimensão mundial e ela se queda muda, triste, magoada, sofrida, doente, enfim, quase morre com a decepção.


Eu também já fui vítima dessa mania de criar expectativas e meu sofrimento não foi menor do que o dela, mas a vida está me ensinando, aos poucos e ao longo dos anos, que podemos sonhar, mas que um pedaço da gente precisa continuar pisando em terra firme.

Muitos acontecimentos marcaram minha vida nessa ciranda de esperar e me decepcionar mas um, em especial, e que hoje considero até cômico, me frustrou profundamente.

Eu era muito nova, tinha cerca de dezoito ou dezenove anos e já namorava há uns dois ou três anos um rapaz nove anos mais velho do que eu. Isso aconteceu há mais de quarenta anos e, apesar de eu não gostar nem um pouco de usar a expressão “naquela época”, sou obrigada a usá-la aqui para poder situar melhor a história. Então vamos lá: naquela época era muito difícil ter telefone em casa e, viajar com o namorado então... impossível.

Esse meu namorado tinha família no interior de Minas Gerais e, periodicamente viajava até sua cidade natal para visitar a mãe e as irmãs. Eu permanecia em São Paulo, apreensiva e aguardando ansiosamente seu retorno.

Numa dessa idas a Minas Gerais e após quase um mês de ausência ( estava em férias no emprego e na faculdade ) meu príncipe retornou e trouxe com ele a esperança de um presente que eu desejava mais do que tudo na vida: AS ALIANÇAS DE NOIVADO.

Tudo aconteceu assim: ele chegou em casa, contente, me abraçou e me disse solenemente: - Meu bem, minha mãe mandou um presente para você, no sábado eu trago.

Essa promessa acendeu em mim, de novo e mais intensamente, a esperança de que agora, finalmente, eu ficaria noiva. Minha mãe, vendo aquela minha alegria, também entrou no clima e começou a acreditar que isso seria verdade pois, se não fosse assim, porque então a promessa de que ... “no sábado eu trago”?

Achava que ele estava preparando uma ocasião solene onde o “pedido” seria feito aos meus pais com toda a pompa e circunstância.

Chegou o tal sábado. Eu me preparei, me arrumei, até ao cabeleireiro eu fui para fazer um penteado da moda, na certeza de que daquela noite o “pedido” não passaria.

Chegou a hora, ele apareceu em casa... vestido informalmente e com um embrulho de tamanho considerável nas mãos.

Em princípio estranhei o tamanho do “presente” mas ainda acreditei que aquele seria outro presente e que a caixinha das alianças estaria em seu bolso, afinal, ele não iria trazê-las nas mãos.

Foi recepcionado com muito carinho por mim e pelos meus pais e eis que, ao entrar em casa, estendeu-me o embrulho e disse: - Olha, aqui está o presente que minha mãe te mandou.

Ainda achando que poderia ser uma daquelas surpresas em que colocamos uma caixa dentro da outra só para fazer volume abracei-me a ele, beijei- o ternamente na face e me dediquei a abrir o embrulho.

Sabem o que tinha dentro dele????? Não?????

Eu também não queria acreditar tamanha minha decepção!!!!

ERA UM QUEIJO... UM GRANDE, REDONDO E FEDIDO QUEIJO DE MINAS!!!



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